Toké[1]
Nunca tive o prazer de conhecer estes simpáticos
bichinhos que dão pelo nome de tokés (Toké - lagarto especial do país [deve referir-se a Timor], que dá uns sons que parecem dizer "tó ké", os
quaes repete por vezes, dizendo alguns indigenas que o numero d'essas vezes
indica as horas que são; o que é certo é que esse numero é muito variavel,
succedendo que emquanto de uma vez repete o som por duas ou tres vezes, de
outras chega a sete e mais.) - in
Diccionario Tetum-Português, autor Raphael das Dores e impresso em Lisboa, na
Imprensa Nacional, em 1907.
Mais recentemente, no dicionário de Luís Costa, Maio
2000, este define Toké ou Toko como “um lagarto ou
sardão (Platydactilus gottutus) cuja voz emita esta palavra”.
Não satisfeito com estas explicações fui encontrar na
fauna de Timor, um bichinho classificado nos Répteis com o nome simpático de
«toké» e com o palavrão científico Gecko verticillatus, mas nem uma
fotografia, uma gravura ou sequer uma leve descrição para matar a minha curiosidade!...
não há direito!!!
Mas para confundir mais este rapaz surge, também, o
«lagarto-voador», com o chavão científico Draco timorensis – a fotografia,
gravura, descrição... ficaram no tinteiro!!!
E para eu ficar mais feliz e com olhos de sardão descobri
esta linda citação “Newton enviou de Timor 3 remessas de Gecko verticillatus
em 1896...”...
Entrei, então, em curto circuito! Por isso lancei um apelo a
todos os Crocodilos Voadores[2]
pedindo-lhes fotografias ou gravuras de tokés ou até de osgas ("Tarentola mauritanica", réptil da família Gekkonidae, que pode atingir 8,5 cm de comprimento. Tem a cabeça grande, bem destacada do corpo, e olhos com pupila vertical. ...)
É que estava curioso e gostaria de os conhecer!...Escolhi
logo este (não me lembro quem o mandou):
Mas como é que nasceu este meu súbito interesse por Tokés,
Osgas e outros bicharocos afins?
Em sequência de uma crónica feita há alguns anos fiquei a
saber que existiam tokés e tokis (não encontrei qualquer referência a
este último senhor bicho!!!).
Então confrontei a Milú, os tios, a madrinha e velhos
conhecidos, mas ninguém se lembrava deste último animaleco...
A Milú contou-me, então, alguns factos passados na sua meninice em Timor e que passo a
transcrever. Se a minha imaginação ultrapassar a realidade, não reparem, é pura
coincidência...
1º Episódio - O Pai da Milú foi expedicionário em Timor por altura da
2ª grande guerra. Lembra-se, ainda, nas suas andanças com o pai, de ver os
referidos tokés nas paredes das casas e nos tetos, uma vez que os
telhados naquela altura eram de palapa[3].
Lembra-se que em sua casa havia estes lagartos e até
chegaram a estabelecer uma certa cumplicidade: eles (tokés) comiam os mosquitos e outros
insectos; em contrapartida partilhavam a habitação e o calor humano... ahh!!! E não
esqueçam! Ouvir um "tóké" cantar 7 vezes, era sinal de
felicidade.
Diz a Milú que a casa onde habitavam, estilo colonial,
era composta por uma varanda a toda a volta, onde normalmente os amigos conviviam
e muitas vezes era a sala de jantar e de estar. O telhado era coberto de palapa
e pelos tetos e paredes lá andavam os simpáticos bichinhos (tokés, claro!!!)
na sua função.
Um belo dia, numa reunião de amigos lá em casa, a mãe,
vestida como era hábito na época, com grandes decotes à frente e atrás, sentiu
que um toké que caíra do teto e com tal pontaria que se enfiou pelas costas abaixo... Aos saltos e aos gritos, não só pelo incómodo mas também pela
repugnância que lhe causava o bicho, pediu a uma amiga que o tirasse...
Pois!
Esta amiga, entrou em pânico e cheia de medo, pediu ao
marido:
- "Chiquinho, Chiquinho, tira o bicho à Dona
L...".
2º Episódio: Outra cena passou-se com uma tia, numa casa no
interior de Timor. Esta acordou em altos berros, bem na calada da noite, ao sentir
um toké que caiu do teto bem em cima da tia da Milú... Segundo reza a tradição
andaram durante horas, de vassoura em punho, à procura do dito bicho... consta
que não o encontraram! Pois, era lagarto e não burro...
3º Episódio: Por último, lembra-se do toké esquisito. Este resolveu,
durante muito tempo, fazer a "sua casa" de verão na parte de trás do
frigorífico... e ai de quem o tentasse tirar da "sua habitação"!...
em vez do "toké", som natural e amigável, ouvia-se um bufar que nem um
gato, sempre que se tentava desalojar este inquilino...
Depois de ter escrito este artigo tenho sido inundado por fotografias de Tokés... muito obrigado, pessoal! Não há fome que não traga fartura.
Um abraço,
José Gomes